quarta-feira, 16 de março de 2011

Marketing da pamonha

Por Gisele Barcelos

Não imaginava, mas a pamonha é a musa inspiradora de vários artistas no Brasil. Em pesquisa aleatória na internet sobre as origens da iguaria, foi surpresa encontrar demonstrações cantadas de amor à delícia do milho. A princípio, todas no ritmo e com as letras duvidosas do funk carioca; estilo chamado de música com relutância. Porém, à medida que a curiosidade crescia, encontrei também homenagens ao som de rock, chorinho e até blues.
A ascensão do produto, entretanto, é resultado de uma estratégia de marketing bem-sucedida. Publicitários deveriam fazer estudo de caso sobre o marketing da pamonha. A rudimentar produção foi transformada pelos empreendedores pamonheiros em estrutura profissional para comercializar o quitute de origem africana mineira. Hoje o negócio caipira parece uma franquia extremamente organizada, com filiais que se infiltram onde você não imagina e jingles padronizados que grudam na cabeça do consumidor.
No interior de Minas Gerais, por exemplo, antes mesmo do tradicional dizer “Olha a pamonha”, os versos “Tentei te esquecer, não deu! Pensei que fosse mais forte que este amor. Oh minha paixão, sou seu! Por mais que eu queira disfarçar...”, embalados pelo mais brega das canções sertanejas, denunciava a proximidade da filial ambulante.
Do apartamento no último andar, a jovem grávida sempre escutava o chamado. Aos seis meses de gestação, desta vez o apelo foi irresistível e atiçou o desejo pela tradicional pamonha da roça, a melhor pamonha da cidade como afirmava a gravação abafada.
Atraída pelo carro de som, desceu as escadas até o térreo, apressada, porque pelo barulho o vendedor estava ali perto. Esperou ainda uns cinco minutos na entrada do prédio, ouvindo o retumbante anúncio com trilha sonora, sem distinguir de qual lado vinha o ataque.
A jovem grávida já estava irritada quando, finalmente, o condutor da pamonharia móvel apontou no fim da rua. A potência das caixas contrastava com a esguia bicicleta que o vendedor pedalava arduamente. Por um instante, ela chegou a pensar que o mecanismo era apenas para propaganda volante, pois não haveria espaço para carregar um som tão poderoso e ainda as pamonhas naquele precário veículo.

– Oi moço! Tem pamonha aí? – perguntou sem esperanças.
– Se tem! Falta quatroooooo...centas pra acabar! – surpreendeu em tom de brincadeira – Vim lá da fazenda a uns 30 quilômetros da cidade, mas hoje o movimento tá fraco, dona.
– Pensei que vocês só viessem quando alguém pede por telefone... Mas nem deve ter linha telefônica na zona rural, né?
– Que isso, dona. Atendemos pedido por telefone, sim. Tenho um cartão aqui com o número e a senhora pode ligar sempre que sentir vontade! – garantiu, rindo para a barriga sobressalente da moça, e entregou o pedaço de papel.

A tarjeta seria bastante comum, não fossem as informações impressas. Além do telefone fixo e celular, o nome do vendedor vinha acompanhado do site e o email para contato. Tentando disfarçar a incredulidade, a grávida brincou:

– Ah! E esse site funciona mesmo?
– É atualizado todo dia. Tem notícias, receitas, espaço pra sugestões e também dá pra enviar pedidos no chat em tempo real. E a gente ainda recebe por email os pedidos dos clientes. – afirmou orgulhoso.
– Mesmo?

Antes da mulher recuperar a fala, o pamonheiro com chapéu de palha surrado na cabeça continuou:

- Agora montamos o perfil no twitter e já tem uns 250 seguidores. Muita gente já conhecia a marca porque acompanhava o profile no orkut e facebook. Sabe como é, a gente precisa estar atualizado.

Ainda surpreendida com a impecável pronúncia do inglês, a futura mamãe resolver pegar a mercadoria e evitar novos embaraços.

- Que bom! Me dá quatro pamonhas, então. – disse, arquitetando guardar uma para agradar o marido.
- São R$ 20.
- Por quatro pamonhas? Como assim? Nem tem certificado de garantia.
- Mas se a senhora quiser pode entrar no youtube e conferir passo-a-passo nossa linha de produção. Tudo na maior higiene pra segurança do freguês.

Sem dinheiro suficiente na carteira, a jovem já acenava desistindo da transação.

- Deixa pra outro dia.
- Que isso, dona! Tem cartão de crédito? – convidou já sacando o celular com o novo sistema de compras online disponível.

4 comentários:

  1. Gi muito engraçado ... Parabénsss ... o blog ta otimo ... to doida pra ler a de amanha !
    Bj

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  2. LOL... Eu quero ver um carinha com esse sistema "pamonhation" kkk

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  3. Isso tudo saiu naquela noite de quarta-feira?kkkkkkkkkk

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