quarta-feira, 2 de março de 2011

O Velório

Gisele Barcelos

Carlão era uma pessoa com quem os amigos sempre podiam contar. Se havia uma certeza era de que ele nunca estava presente em qualquer evento da galera. Foram muitos convites, sempre com confirmações veementes.
─ Você acha que EU iria faltar na sua despedida de solteiro, cara!? ─ disse na véspera do casamento de um companheiro. Mas nada de surpresa. Carlão não compareceu, nem mandou mensagem.
Em outra ocasião, ele garantiu participar do ensaio da banda de rock:
− Pode contar comigo lá no estúdio quinta-feira.
O som de mais uma promessa não cumprida, assim como a balada para comemorar o aniversário de um dos melhores amigos. Se o moço tivesse esperado o telefonema de Carlão, teria festejado sozinho no pequeno apartamento de dois quartos. A festa (sem Carlão), a propósito, foi um sucesso.
E o mesmo se repetiu em formaturas, churrascos, trilhas, almoços e eventos de várias espécies... Até que chegou ao ponto de, apesar da confirmação de presença, os amigos nem incluírem a cota de Carlão no consumo de salgadinhos e refrigerante.
Assim os anos passaram. A galera foi ficando velha e, com isso, a fama de Carlão se consolidou. Ele era o chamando “tratante”, palavra que, no português vulgar, designa o indivíduo que combina e não faz. Para a maioria dos amigos, só havia uma única ocasião em que havia plena confiança no comparecimento de Carlão: seu próprio funeral. Outros ainda duvidavam até disso.
Fizeram um bolão, com média de 10 para 1 nas apostas a favor de Carlão. O assunto virou piada entre a turma. Até que, um certo dia, Carlão realmente partiu dessa pra melhor, bateu as botas, vestiu o paletó de madeira ou qualquer outro eufemismo de preferência para tratar a morte. A notícia atingiu a todos, como sempre acontece nesses casos, e os companheiros enlutados se cobriram de preto para prestar a última homenagem. Afinal, tratantices a parte, Carlão era o gente boa, sempre de bom humor.
Por isso, a esposa, filhos, sobrinhos, tios chatos, colegas de trabalho e a lista dos mais chegados se reuniram na capela deprimente, mal iluminada e com paredes em cor pastel. As cabeças se multiplicavam no salão e as lágrimas também... O olhar marejado talvez tenha comprometido a visibilidade porque muitos minutos passaram até alguém perceber que o Carlão defunto não estava lá.
A princípio, os presentes acharam que a situação era apenas um mal entendido. Mas, aos poucos, a ausência do “homenageado” começou a gerar um alvoroço nunca visto. Liga pra um, manda mensagem pro outro e no contato com o dono da funerária descobre-se que o carro que transportava o morto se envolveu num acidente. O motorista estava bem mas, na batida, a porta traseira se abriu e o caixão deslizou barranco abaixo até cair no rio, sem nenhum possível resgate.
O silêncio imperou por alguns instantes. Mas, uma voz animada surgiu no meio do desconforto geral:
− Eu sabia que ele num vinha. – ria quem venceu sozinho o bolão acumulado em R$ 1 mil. – O Carlão nunca falha.

4 comentários:

  1. Carlão sempre faz seu dever! ahushauhsuhushuasha
    Ri demais!

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  2. Nossa, o Carlão sempre me faz raiva, viu?kkkkkkkkkkk!!!Mto boaa, GI!

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  3. Rsrsrsrs..boa essaaaa Gi!!

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    muitooo boa!

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